O Craque disse e eu anotei - AMAURY HORTA

21/02/2013 15:58

 

fonte: Futebol de todos os tempos.

 
Amaury Horta é mais uma entrevista para comemorar o centenario do America . Ele que é apontado em quase todas as listas que se façam do America de Todos os Tempos é tambem um jogador que marcou seu nome na historia do Atletico Mineiro. Fez tres partidas contra seleções e em todas elas fez gols, inclusive contra a seleção brasileira tricampeã no México em 1970. Confiram.


FUTEBOL DE TODOS OS TEMPOS – O senhor começou nas categorias de base do America. Ficou muito tempo entre uma categoria e outra?
AMAURY HORTA – Eu fiquei pouco tempo nos juvenis  em 58 e 59 quando fizemos um grande campeonato e ganhamos até com certa facilidade. Fomos campeões e como prêmio eu e o Decio Teixeira fomos chamados para uma excursão com os profissionais.

FTT – Quem subiu com o senhor desta leva?
AMAURY HORTA – Foi eu, o Caillaux, o Eduardo que depois foi jogar na Argentina e o Decio Teixeira. Como disse, eu e o Decio fomos escolhidos entre os juvenis para acompanhar os titulares numa excursão a Europa. Eu não joguei as duas primeiras partidas mas na Grecia eu joguei e fiz o gol da vitoria por 1x0. E desta partida em diante nunca mais voltei para o juvenil. Nos outro jogos na Europa eu fui muito bem, fiz outros gols e quando voltei já fui direto para o profissional. E eu tinha apenas 17 anos.



FTT – E o senhor nos juvenis em 58 tinha aquela admiração pelos profissionais campeões mineiros em 57?
AMAURY HORTA – Na verdade quando acompanhei mais os jogos em 59 o America já tinha se desfeito de grande parte daquele time campeão. O time de 59 tinha o Toledo que faleceu recentemente, tinha o Roberto e mais alguns mas o time foi renovado.

FTT - No ano de 1963 o senhor foi convocado para a seleção mineira.
AMAURY HORTA – Esta foi a primeira vez que fizeram uma convocação com toda estrutura. Tinhamos dentista, medico e tudo mais a disposição. Ficamos concentrados no Sesc Venda Nova e com isto montamos uma equipe que se sagrou campeã. Ganhamos do Paraná duas vezes, uma de goleada por 6x0. Ganhamos também de São Paulo lá dentro por 3x0 e no jogo de volta eles fizeram um gol logo de cara e foi uma tremenda pressão até nós empatarmos.


FTT – Na final Minas Gerais venceu as duas partidas contra os cariocas.
AMAURY HORTA – Ganhamos dos cariocas aqui e lá no Rio. Uma seleção que tinha : Castilho; Jair Marinho, acho que era Luis Carlos, Zózimo e Altair; Carlinhos e Gerson; Joel, Henrique, Dida e Escurinho. E nós ganhamos aqui e lé. Lá inclusive nós estávamos perdendo de 1x0 e viramos para 2x1.
 
FICHAS DOS JOGOS

 
JOGO DE IDA DA FINAL
 
MINAS GERAIS 1 x 0 GUANABARA
 
Minas Gerais: Marcial; Massinha, William, Procópio e Geraldino; Hilton e Amauri; Luiz Carlos, Rossi, Marco Antônio e Ari. Técnico: Mário Celso
 
Guanabara: Castilho; Jair Marinho, Luiz Carlos, Zózimo e Altair; Carlinhos e Gérson; Correia, Foguete, Henrique (Nelson) e Nilo. Técnico: Flávio Costa
 
 
DATA: 27 de janeiro de 1963
LOCAL: Estádio Independência
GOL: Ari, aos 26 minutos do primeiro tempo
ARBITRAGEM: Armando Marques, auxiliado por Alcebíades de Magalhães Dias e Luiz Pereira Filho
PÚBLICO: 32.721 pagantes
RENDA: Cr$ 9.924.060,00
 
 
JOGO DE VOLTA DA FINAL
 
GUANABARA 1 X 2 MINAS GERAIS
 
Guanabara: Castilho; Jair Marinho, Luiz Carlos (Mário Tito), Zózimo e Altair; Carlinhos e Gérson; Joel, Henrque, Dida e Escurinho. Técnico: Flávio Costa
 
Minas Gerais: Marcial; Massinha, William, Procópio e Geraldino; Hilton e Amauri; Luiz Carlos (Nerival), Rossi, Marco Antônio e Ari. Técnico: Mário Celso
 
DATA: 30 de janeiro de 1963
LOCAL: Maracanã
GOLS: Dida, aos 6, e Luiz Carlos, aos 12 minutos do primeiro tempo; Marco Antônio, aos 36 minutos do segundo tempo
ARBITRAGEM: Joaquim Gonçalves, auxiliado por Cláudio Magalhães e Wilson Lopes de Sousa
EXPULSÕES: Jair Marinho, Altair e Joel (Rio de Janeiro)
PÚBLICO: não disponível
RENDA: Cr$ 11.565.438,00
 
FTT – O senhor acha que foi uma zebra ou Minas Gerais foi mesmo superior?
AMAURY HORTA – Fomos superiores o campeonato todo. Basta ver que ganhamos do Paraná aqui de 4x0 e lá dentro de 6x0. Vencemos a seleção paulista por 3x0 no Pacaembu e aqui foi um empate sofrido por causa da pressão que se criou.
 
FTT – No duelo pelo meio campo o senhor e o Ilton Chaves se deram bem contra o Carlinhos e Gerson. Dois adversários de respeito.
AMAURY HORTA – A seleção mineira estava muito certinha. O Marão foi muito bom técnico e arrumou o time. Ele soube convocar muito bem, soube quem colocar no time, soube administrar a pressão e nós pudemos render bem em campo.


FTT – Coincidentemente depois que Minas Gerais conquistou o torneio a CBD resolveu acabar com este campeonato. Era por falta de datas?
AMAURY HORTA – Eu acho que é porque se acostumaram a ficar apenas entre cariocas e paulistas e se assustaram com nosso titulo. Nunca tinham perdido até então.


FTT - Suas atuações no America e principalmente na seleção mineira despertaram o interesse de outros times na sua contratação. Porque a escolha em ir para o Comercial?
AMAURY HORTA – Na verdade eu fui vendido. Foi uma coisa que foi acordada meio escondido ente a diretoria do Comercial que veio me comprar e a diretoria do America. Ficou acertado que não seria anunciado nada durante  o campeonato brasileiro de seleções. Eu fui vendido depois da segunda partida contra o Paraná numa segunda feira. Fui vendido antes de ser campeão, eu e o Marco Antonio .


 
FTT - E este time do Comercial fazia frente aos grandes times paulistas?
AMAURY HORTA – Fazia. No campeonato de 66 terminamos em terceiro e não fomos para a final porque no jogo contra o Palmeiras em Ribeirão, nós fizemos 1x0, depois fizemos o segundo e o juiz anulou. Depois fez uma lambança. O gol do Palmeiras empurraram o Rosan com bola e tudo pra dentro do gol e valeu. Enfim , fomos prejudicados e muito.
 
FTT – Este Comercial encarava todo os grandes mas e o Santos ?
AMAURY HORTA – Tambem. O maior jogo do campeonato paulista foi Santos 7x5 Comercial. Para você ter ideia, o arbitro foi o José Astolfi e quando acabou o jogo ele pegou a bola e colheu as assinaturas dos dois times. Falou que foi o maior jogo que ele já tinha apitado. O jogo foi assim: saímos perdendo de 2x0, viramos o jogo e era lá e cá o jogo todo. O Pelé não fez nenhum gol nesta partida mas colocou o Coutinho em condições de marcar uns ter ou quatro gols. E o Coutinho era aquele jogador de área, pois ele não era muito de sair pra buscar jogo e ali ele fez uns três gols. Foi um jogo histórico.
 
FTT - Você acredita que foi e ainda é o melhor time que o Comercial já teve?
AMAURY HORTA – Foi. Para se ter ideia, eu estive em Ribeirão Preto recentemente numa solenidade de posse da nova presidência e ela nos prestou esta homenagem. Nos encontramos quase todos numa festa muito gostosa. Esta recepção foi a confirmação do que representou aquela equipe para o clube.
 
FTT – E os classicos contra o Botafogo?
AMAURY HORTA – Nunca perdi para o Botafogo. Nunca! Nem no nosso campo e nem no deles. Aliás ganhamos duas vezes no campo deles. Ganhei também um torneio que disputamos em Goiania e por coincidência na final deu Comercial e Botafogo. Eu cheguei a ganhar de 5x0 na estreia do Marão no Botafogo.
 
 
FTT – Pois quem foi melhor: o Comercial de Rosan , Piter, Amaury, Jair Bala e Carlos Cesar ou o Botafogo de Aguilera, Lorico, Ze Mario e Socrates ?
AMAURY HORTA – Olha eu continuo acreditando que dava o Comercial. Tinha não só este pessoal que você falou mas tinha o Nonô, o Ferreira que depois foi pro Vasco, o Paulo Bim. Eu apostava no Comercial.
 
 
FTT – O senhor parece ter gostado muito do Comercial, porque a saída?
AMURY HORTA – Fizemos um campeonato brilhante em 66 e no inicio de 67 foi uma fase de crise financeira. Houve um problema com um dirigente que tinha investido muito dinheiro no clube e tiveram que vender alguns jogadores. Eu a principio não estava incluído. Eu era o capitão da equipe, tinha um nome muito grande com a torcida e eles não queriam me vender. Porem depois de uma excursão que nós fizemos ao Nordeste onde jogamos emPernambuco, Bahia, Sergipe e quando eu voltei direto para Belo Horizonte, a diretoria do Atlético me procurou e disse que eu avisasse a diretoria do Comercial que eles iriam lá para conversar. Assim foi feito. Eles tiveram que fazer uma reunião do conselho e depois de muita discussão , com parte do conselho sendo contra resolveram me vender porque necessitavam resarcir aquele diretor que havia investido no clube.
 
AMAURY HORTA VAI PARA O ATLÉTICO MINEIRO
 
FTT – O senhor voltou para Minas mas desta vez para o Atlético. Como era a estrutura do clube naquela epoca?
AMAURY HORTA – Eu peguei a época de treinamento ainda em Lourdes no estádio do Atletico. O gramado era muito ruim. Aliás todos os estádios com exceção do Independencia eram muito ruins os gramados. Nos concentrávamos no Hotel Taquaril.

FTT – O futebol mineiro em geral tinha pouca estrutura nesta época?
AMAURY HORTA - Olha vou te citar uma passagem só para se ter um ideia de como era. Teve um jogo em Nova Lima contra o Villa Nova e eu subi numa bola com o Eleutério e quando eu desci meu queixo bateu em cima da cabeça dele. Na hora eu senti que machuquei. Passei a mão e vi que estava sangrando. Pensei que tinha arrebentado todos meus dentes mas aí chegou o Ari perto de mim e disse que não, que tinha sido um corte no queixo. Me lembro que sai e fui levado para o vestiário. O médico chegou e me disse: “a primeira noticia que eu tenho é que não tem anestesia”. E eu como uma dor mas uma dor de ficar louco. Foi então que veio a segunda noticia: “ não tenho linha para suturar, somente ponto grampeado.” Eu falei: que isto? Pois ele pegou o grampeador e cada ponto que me dava eu quase batia no teto de tanta dor. Eu tentei voltar pro jogo mas eu não conseguia nem falar. Fiquei 20 dias sem poder comer, só tomava liquido. O médico então pegou seu carro e foi embora. Acabou o jogo e nós viemos no ônibus e eu alucinado de dor. O Bolão, massagista do America então falou que íamos para o pronto socorro porque lá sempre tinham uns médicos conhecidos do pessoal do America. Chegamos lá e realmente apareceu um doutor lá conhecido. Ele veio e perguntou o que tinha acontecido. Então falaram que eu estava sentindo muita dor. Tiraram radiografia do meu maxilar e não tinha quebrado nada. Mas eu fiquei com aqueles grampos e sofri por quase 20 dias.
Outra coisa eram os matérias de treino. As chuteiras eram de péssima qualidade, tinham pregos que saiam da sola e te furavam o pé. Muitas vezes deixava o meião mais pra baixo para poder usar a ponta dele dobrada para servir de sola amortecendo.

FTT – Em 1968 o Atletico representou a seleção brasileira em um jogo no Mineirão contra a Iugoslavia. Fale um pouco desta partida?
AMAURY HORTA – A Iugoslavia saiu ganhando de 2x0. Depois eu dei um passe e o Vaguinho fez o primeiro. No final do primeiro tempo o Vaguinho foi a linha de fundo e eu já estava acostumado com esta jogada dele pois treinavamos sempre. Vim correndo da intermediaria e subi de cabeça marcando o gol de empate. O arbitro uruguaio Ramon Barreto e o Yustrich trocaram umas barrigadas e nosso tecnico foi expulso. No segundo tempo o Ronaldo fez o gol da vitoria. (Brasil 3x2 Iugoslavia.)

FTT – Os iugoslavos naquele tempo tinham boa tecnica tambem e eram inclusive chamados de “os brasileiros da Europa.
AMAURY HORTA - Tinham uma grande seleção. Não eram divididos ainda. Era um pais só. Não tinha Servia, Croacia, Estonia e Bosnia igual hoje em dia. Quando eram todos juntos tinham um time muito forte.

DATA: 19/Dezembro/1968 - LOCAL: Estádio do Mineirão, em Belo Horizonte-MG (Brasil)
PÚBLICO: 37.592 - ÁRBITRO: Ramón Barreto (Uruguai)
GOLS: Josip Bukal (5), Nenad Bjekovic (8), Vaguinho (32), Amauri Horta (45) e Ronaldo (53)

BRASIL: Brasil: Mussula; Vander, Normandes (Djalma Dias), Grapete e Décio Teixeira; Vanderlei Paiva, Amauri Horta e Lola; Vaguinho, Ronaldo e Tião (Caldeira). Técnico: Yustrich.

IUGOSLÁVIA: Ivan Curkovic; Andjelko Tesan, Rajko Aleksiv, Miroslav (Dragan Holcher) e Dojcinovski; Paunovic, Nenad Bjekovic (Ilija Katic) e Spasovski; Vahidin Musemic (Rudolf Belin), Jovan Acimovic (Fikret Mujkic) e Josip Bukal. Técnico: Rajko Mitic.
 

O GALO VENCE A PODEROSA SELEÇÃO BRASILEIRA DE PELÉ, TOSTÃO, GERSON , RIVELLINO E CIA


FTT – Já em 69 foi o Atletico quem enfrentou a seleção brasileira. Voces venceram po 2x1. Jogo para nunca mais esquecer.
AMAURY HORTA - O Brasil tinha se classifcado para a Copa do mundo no México e veio fazer este amistoso em Belo Horizonte. O Atletico jogou com a camisa da seleção mineira. Eu fiz o primeiro gol, Pelé empatou e depois o Dario fez o segundo gol.
 
FTT – Você e o Oldair ali no meio campo tendo de marcar Gérson , Rivellino, Jairzinho, Tostão, Ze Carlos e Pelé. Era muito craque para ser parado.
AMAURY HORTA - Naquela epoca se jogava com um medio volante e um armador e o Tião que era ponta é quem ajudava a fechar o meio. A gente se entendia muito bem e demos conta de cobrir os laterais e ajudar a armar o time. Fomos felizes nesta partida.
 
Está ai o video do Canal 100 com as imagens do jogo:
 
 
FTT - E teve algum jogador com quem o senhor se entendia melhor?
AMAURY HORTA - O Vanderley foi um. No Atletico a gente se entendia muito bem. Teve o Pedro Omar no America. O outro foi o Ilton Chaves no America. O Ilton era jogador de muita raça. Chegou aser apontado como inutilizado para o futebol quando veio do Atletico. O Paulo Benigno (preparador fisico) fez um trabalho extraordinario para recupera-lo. Me lembro que depois de 2 anos parado , no jogo da sua volta em um amistoso em Ponte Nova, ele entrou no vestiario no intervalo em prantos. Primeiro que estava muito emocionado e depois porque achou que tinha decepcionado a todos e não tinha correspondido. Nosso treinador chegou então e falou que ele não iria sair e contava com ele . Foi para o segundo tempo e voltou a ser aquele grande jogador que todos conheciam. Ele voltou tão bem que acabamos quatro jogadores do America sendo a base da seleção: Ilton Chaves, eu, Marco Antonio eo Ari.
 
FTT - E parece ser o seu destino fazer gols em seleções pois teve outro jogo entre o Atletico e a seleção da Hungria e novamente o senhor fez um gol.
AMAURY HORTA - Nós estavamos perdendo por 2x0 e então eu fiz o primeiro gol de cabeça numa cobrança de escanteio. No segundo temp empatamos o jogo.
 
 
FTT - A Hungria não era mais a mesma dos anos 50 mas ainda era forte.
AMAURY HORTA - Ainda tinham um time muito bom . O atacante deles , o Albert era excelente. O futebol não era mais o de Kocsis, Czibor, Puskas mas era muito bom .